Humanização no perioperatório eletivo

 

 

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  Essa pesquisa foi desenvolvida por Adriano Amaral Caulliraux ao longo do Mestrado em Sistemas de Gestão (UFF), e aprovada pela banca no dia 30/05/15.

 

   Independente da complexidade do diagnóstico, a necessidade de realizar um procedimento cirúrgico é um fator altamente estressor. Apesar dos medos, anseios, e outros problemas relacionados ao processo perioperatório, não existem estudos que abordem a humanização em sua totalidade. A pesquisa em questão propôs um método com base no Design Thinking para estudar o fluxo perioperatório do paciente eletivo e desenvolver propostas para a humanização do mesmo. Foram realizadas 20 entrevistas com ex-pacientes cirúrgicos, 20 entrevistas com profissionais de saúde envolvidos no perioperatório, 50 horas de observação padronizada em 2 centros cirúrgicos, visitas a 2 hospitais que prestam serviços perioperatórios, revisão da literatura nacional e internacional relacionada, além de momentos de prototipagem e cocriação com os colaboradores envolvidos. Diversos protótipos foram criados, testados e refinados in loco, possibilitando a compreensão das necessidades dos pacientes nos níveis físico, emocional e cognitivo, ao longo das 16 etapas do perioperatório. Com base nas necessidades mapeadas foram propostas 28 diretrizes para humanização do perioperatório, e então realizado um exercício narrativo acerca do fluxo humanizado. Conclui-se que o método foi adequado para o desenvolvimento da pesquisa, visto que as diversas fontes de investigação utilizadas possibilitaram a compreensão holística do fenômeno e a proposição de soluções alinhadas com o cenário atual da área da Saúde.


   A figura abaixo apresenta as necessidades dos pacientes ao longo do perioperatório eletivo:

 

 

A figura abaixo apresenta as 28 diretrizes desenvolvidas para a humanização do fluxo perioperatório eletivo:

 

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  As diretrizes propostas tomaram como referência a experiência dos entrevistados, logo, assim como representam um pacote completo de inovações para alguns, podem refletir uma realidade não tão distante para outros. As 28 diretrizes podem ser implementadas como um todo, ou não, no sentido que a adesão há qualquer um desses aspectos representa um passo para a humanização do tratamento.

 

   A qualidade dos resultados é uma consequência direta do método proposto para esse trabalho. Como demonstrado ao longo dessa dissertação, foram utilizadas entre 5 e 6 fontes de informação para a resolução de cada objetivo específico. Através da prototipagem o pesquisador testou, alinhou e refinou os resultados com o “mundo real”, e a cocriação com diversos colaboradores transpôs as barreiras do conhecimento especializado da medicina, alcançando resultados que contemplam um retrato holístico do sistema. Os resultados foram comparados com o estado da arte, comprovando seu valor e qualidade.

 

   O Design Thinking é uma metodologia focada na descoberta e geração de inventos que supram – e transponham - necessidades implícitas e explícitas dos seres humanos. Por esse motivo seu potencial de aplicação em projetos que busquem a “humanização” se torna evidente, visto a especialidade do campo – pautada pela sinergia e interdisciplinaridade com as ciências sociais – em captar de maneira holística tanto o fenômeno em questão, quando as demandas dos seres humanos envolvidos.

 

   Apesar da importância da humanização para as distintas etapas do fluxo perioperatório, sua aplicação continua parcialmente negligenciada. Enquanto nos hospitais públicos as ações relacionadas à humanização no fluxo cirúrgico são escassas - principalmente por falta de recursos, nos hospitais privados algumas poucas iniciativas começaram a ser realizadas. No contexto internacional observa-se que conceitos de humanização estão presentes nos centros de referência - como o Mayo Clinic, por exemplo, e são aplicados com o intuito de gerar diferenciação no mercado, oferecendo serviços de qualidade superior e, consequentemente, propiciando a vantagem competitiva.

 

   Sob a ótica da saúde pública a humanização dos serviços de saúde representa uma demanda social por dignidade em todas as interações do usuário com o sistema de saúde. Um usuário que atualmente mal consegue acessar o sistema e, quando o faz, vive uma experiência repleta de desconforto, ansiedade, falta de respeito e ausência de informação. Sob a ótica da saúde privada a humanização dos serviços de saúde representa o fornecimento de um serviço de qualidade superior, que supre necessidades explícitas e implícitas de seus usuários, agregando valor aos negócios e alavancando a vantagem competitiva. No contexto atual supracitado se faz necessário a readequação dos serviços de saúde em função do que realmente faz sentido para os seres humanos.

 

   Os resultados dessa pesquisa já serviram como base para o diagnóstico e proposições de melhorias em CC de hospitais públicos e privados do Estado do Rio de Janeiro. Em suma, tem-se buscado uma proposta concreta de fornecimento de informações sobre o processo cirúrgico para os acompanhantes, além da disponibilização de uma sala de espera específica com o mínimo de infraestrutura, buscando amenizar a ansiedade e temores. Pela ótica do paciente, além de todo o processo perioperatório precisar ser repensado, o processo trans-operatório em si carece da valorização da individualidade e dos questionamentos do paciente. Em muitas vezes o mesmo permanece sozinho nos corredores ou no RPA, cirurgias são canceladas pela falta de profissionais básicos - como maqueiros, por exemplo.